Milagres e Estilos
Essa pérola de texto foi publicado em 30 de novembro de 2005, no Correio do Povo.
Milagres e Estilos, por Juremir Machado da Silva
O Internacional é um time de pobres. Nós. Nunca terá convicções de gremista. São duas visões de mundo. O Grêmio é a cara do Rio Grande: arrogante, fanfarrão, pachola, varzeano e, por isso mesmo, capaz de se impor e de vencer em qualquer situação. O Inter, como qualquer pobre de caricatura está sempre meio envergonhado, vai logo dizendo, 'desculpe qualquer coisa', intimida-se com facilidade. Na casa dos ricos, tem medo de sujar o sofá. Como todo pobre complexado, quer jogar bonito, ganhar com elegância, mostrar boas maneiras. O Grêmio, como rico prepotente e seguro de si, não está nem aí para os bons modos: quer é resultado, a qualquer preço.
Ao ser roubado, contra o Corinthians, Tinga já levantou se explicando. O Inter discutiu durante três minutos e acatou a decisão do árbitro. Já em Recife, os jogadores do Grêmio peitaram e chutaram o juiz, criaram um clima terrível, condicionaram tudo e levaram varzeanamente o resultado. O pênalti deveria ter sido batido novamente, pois o goleiro gremista se adiantou. Mas o juiz já estava apavorado, louco para expulsar alguém do Náutico e se ajoelhar diante dos gremistas. Acho que Anderson cobrou a falta para ele mesmo na hora do seu gol impossível. Que importa? O Grêmio já tinha vencido a batalha da 'catimba'.
Existe um inconsciente esportivo. Quando o jogador chega ao Olímpico, assimila um passado de rico dono do mundo, de quem inventa o próprio marketing e o transforma em verdade. No Beira-Rio, o atleta vira um sonhador. O Inter, quando ganha, faz obra-prima, como em 1975 e 1976, ou algo inédito, como o campeonato invicto de 1979. Mas isso é raro e fora de moda, do 'tempo em que se amarrava cachorro com lingüiça', como diria o filósofo Felipão. O Grêmio é um investidor neoliberal que não se preocupa com estética e, se compra quadro, é pelo valor de mercado.
Não falo de ser rico, mas de ter uma atitude de dominação e de mando. Paradoxalmente, castilhismo, gremismo e petismo representam esse espírito de arrogância tipicamente gaúcho. Maragatos, colorados e excluídos encarnam esse idealismo romântico e estetizante dos pobres ou ricos com sensibilidade poética. Como houve milagre em Recife, o Inter não poderá ser beneficiado pelos céus no próximo domingo. Ou Deus será acusado de beneficiar os gaúchos e poderá ser chamado a depor numa CPI sob suspeita de 'mensalão'. Além disso, só o Grêmio é imortal.
Milagres e Estilos, por Juremir Machado da Silva
O Internacional é um time de pobres. Nós. Nunca terá convicções de gremista. São duas visões de mundo. O Grêmio é a cara do Rio Grande: arrogante, fanfarrão, pachola, varzeano e, por isso mesmo, capaz de se impor e de vencer em qualquer situação. O Inter, como qualquer pobre de caricatura está sempre meio envergonhado, vai logo dizendo, 'desculpe qualquer coisa', intimida-se com facilidade. Na casa dos ricos, tem medo de sujar o sofá. Como todo pobre complexado, quer jogar bonito, ganhar com elegância, mostrar boas maneiras. O Grêmio, como rico prepotente e seguro de si, não está nem aí para os bons modos: quer é resultado, a qualquer preço.
Ao ser roubado, contra o Corinthians, Tinga já levantou se explicando. O Inter discutiu durante três minutos e acatou a decisão do árbitro. Já em Recife, os jogadores do Grêmio peitaram e chutaram o juiz, criaram um clima terrível, condicionaram tudo e levaram varzeanamente o resultado. O pênalti deveria ter sido batido novamente, pois o goleiro gremista se adiantou. Mas o juiz já estava apavorado, louco para expulsar alguém do Náutico e se ajoelhar diante dos gremistas. Acho que Anderson cobrou a falta para ele mesmo na hora do seu gol impossível. Que importa? O Grêmio já tinha vencido a batalha da 'catimba'.
Existe um inconsciente esportivo. Quando o jogador chega ao Olímpico, assimila um passado de rico dono do mundo, de quem inventa o próprio marketing e o transforma em verdade. No Beira-Rio, o atleta vira um sonhador. O Inter, quando ganha, faz obra-prima, como em 1975 e 1976, ou algo inédito, como o campeonato invicto de 1979. Mas isso é raro e fora de moda, do 'tempo em que se amarrava cachorro com lingüiça', como diria o filósofo Felipão. O Grêmio é um investidor neoliberal que não se preocupa com estética e, se compra quadro, é pelo valor de mercado.
Não falo de ser rico, mas de ter uma atitude de dominação e de mando. Paradoxalmente, castilhismo, gremismo e petismo representam esse espírito de arrogância tipicamente gaúcho. Maragatos, colorados e excluídos encarnam esse idealismo romântico e estetizante dos pobres ou ricos com sensibilidade poética. Como houve milagre em Recife, o Inter não poderá ser beneficiado pelos céus no próximo domingo. Ou Deus será acusado de beneficiar os gaúchos e poderá ser chamado a depor numa CPI sob suspeita de 'mensalão'. Além disso, só o Grêmio é imortal.
2 Comments:
At domingo, 27 abril, 2008, Anônimo said…
Hahahahahahaha...!!!
E o que foi feito deste clube tão glorioso?!?
O triste da ilusão de grandeza é que, quando passa, nos derruba de muito alto.
At quinta-feira, 17 fevereiro, 2011, Antonio de São Borja said…
Nada como um professor, escritor, cronista de renome e colorado como o Juremir pra falar tão bem sobre o estilo dos time do sul
Postar um comentário
<< Home