Da Geral

Lembranças e depoimentos feitos por um apaixonado direto da Geral! Comentários sobre futebol e derivados.

segunda-feira, outubro 12, 2009

Talismãs e Esconjuros

Dia desses, catanto notícias do nosso Grêmio por aí para incrementar o blog, andando de link em link, cheguei nesses maravilhoso texto de Eduardo Galeano, publicado por Juliana de Brito.

Então aqui vai mais uma dica de literatura futebolística: Futebol ao Sol e à Sombra, de Eduardo Galeano.



Talismãs e Esconjuros

"Muitos jogadores entram em campo com o é direito e fazendo o sinal da cruz. Também há os que vão direto ao arco vazio e fazem um gol, ou beijam as traves. Outros tocam a grama e levam a mão aos lábios.
Com freqüência se vê que o jogador usa medalhinha no pescoço e, presa ao pulso, alguma fita de proteção mágica. Se bate um pênalti que sai meio torto, é porque alguém cuspiu na bola. Se desperdiça um gol feito, é porque algum bruxo fechou o arco inimigo. Se perdeu a partida, é porque deu a camisa da última vitória.
O arqueiro argentino Amadeo Carrizo estava há oito partidas com sua meta invicta, graças aos poderes de um gorro que usava ao sol e à sombra. Aquele gorro exorcizava os demônios do gol. Uma tarde, Ángel Clemente Rojas, jogador do Boca Juniors , roubo-lhe o gorro. Carrizo, despojado de seu talismã, tomou dois gols, e o River perdeu a partida.
Um protagonista do futebol espanhol, Pablo Hernández Coronado, contou que quando o Real Madri ampliou seu campo, passou seis anos sem ganhar o campeonato, até que a maldição foi vencida por um torcedor que enterrou uma cabeça de alho no centro do gramado. O célebre atacante do Barcelona, Luis Suarez, não acreditava em maldições, mas ainda assim sabia que ia fazer gols cada vez que derramava vinho enquanto comia.
Para invocar os espíritos malignos da derrota, os torcedores jogam sal no campo inimigo. Para espantá-los, semeiam seu próprio campo com punhados de grãos de trigo ou arroz. Outros acendem velas, oferecem aguardente à terra ou jogam flores no mar. Há torcedores que suplicam proteção a Jesus de Nazaré e às almas benditas que morreram queimadas, afogadas ou perdidas, e em vários lugares se comprovou que as lanças de São Jorge e seu gêmeo africano Ogum são muito eficazes contra o dragão do mal olhado.
As gentilezas, por sua vez, devem ser agradecidas. Os torcedores favoritos pelos deuses sobem de joelhos as encostas de altas montanhas, envoltos na bandeira do time, ou passam o resto de seus dias murmurando o milhão de rosários que juraram rezar. Quando o Botafogo foi campeão em 1957, Didi saiu de campo sem passar pelo vestiário e assim, com seu uniforme de futebol, pagou a promessa que tinha feito ao seu santo padroeiro: atravessou a pé a cidade do Rio de Janeiro, de ponta a ponta.
Mas as divindades nem sempre dispõem do tempo necessário para vir em socorro dos jogadores atormentados pela desgraça. A seleção do México tinha chegado ao Mundial de 30 abatida por prognósticos pessimistas. Na véspera da partida contra a França, o treinador mexicano, Juan Luqué de Serrallonga, dirigiu uma mensagem de ânimo aos jogadores reunidos em seu hotel de Montividéu: garantiu-lhes que a Virgem de Guadalupe estava rezando por elews lá na pátria, morro de Tepeyac.
O treinador não estava bem informado sobre as múltiplas atividades da Virgem. A França meteu-lhes quatro gols e o México foi o lanterninha do campeonato."

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