Da Geral

Lembranças e depoimentos feitos por um apaixonado direto da Geral! Comentários sobre futebol e derivados.

quarta-feira, julho 05, 2006

Milagres e Estilos

Essa pérola de texto foi publicado em 30 de novembro de 2005, no Correio do Povo.

Milagres e Estilos, por Juremir Machado da Silva

O Internacional é um time de pobres. Nós. Nunca terá convicções de gremista. São duas visões de mundo. O Grêmio é a cara do Rio Grande: arrogante, fanfarrão, pachola, varzeano e, por isso mesmo, capaz de se impor e de vencer em qualquer situação. O Inter, como qualquer pobre de caricatura está sempre meio envergonhado, vai logo dizendo, 'desculpe qualquer coisa', intimida-se com facilidade. Na casa dos ricos, tem medo de sujar o sofá. Como todo pobre complexado, quer jogar bonito, ganhar com elegância, mostrar boas maneiras. O Grêmio, como rico prepotente e seguro de si, não está nem aí para os bons modos: quer é resultado, a qualquer preço.
Ao ser roubado, contra o Corinthians, Tinga já levantou se explicando. O Inter discutiu durante três minutos e acatou a decisão do árbitro. Já em Recife, os jogadores do Grêmio peitaram e chutaram o juiz, criaram um clima terrível, condicionaram tudo e levaram varzeanamente o resultado. O pênalti deveria ter sido batido novamente, pois o goleiro gremista se adiantou. Mas o juiz já estava apavorado, louco para expulsar alguém do Náutico e se ajoelhar diante dos gremistas. Acho que Anderson cobrou a falta para ele mesmo na hora do seu gol impossível. Que importa? O Grêmio já tinha vencido a batalha da 'catimba'.
Existe um inconsciente esportivo. Quando o jogador chega ao Olímpico, assimila um passado de rico dono do mundo, de quem inventa o próprio marketing e o transforma em verdade. No Beira-Rio, o atleta vira um sonhador. O Inter, quando ganha, faz obra-prima, como em 1975 e 1976, ou algo inédito, como o campeonato invicto de 1979. Mas isso é raro e fora de moda, do 'tempo em que se amarrava cachorro com lingüiça', como diria o filósofo Felipão. O Grêmio é um investidor neoliberal que não se preocupa com estética e, se compra quadro, é pelo valor de mercado.
Não falo de ser rico, mas de ter uma atitude de dominação e de mando. Paradoxalmente, castilhismo, gremismo e petismo representam esse espírito de arrogância tipicamente gaúcho. Maragatos, colorados e excluídos encarnam esse idealismo romântico e estetizante dos pobres ou ricos com sensibilidade poética. Como houve milagre em Recife, o Inter não poderá ser beneficiado pelos céus no próximo domingo. Ou Deus será acusado de beneficiar os gaúchos e poderá ser chamado a depor numa CPI sob suspeita de 'mensalão'. Além disso, só o Grêmio é imortal.

segunda-feira, julho 03, 2006

Orgulho do Beckenbauer

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domingo, julho 02, 2006

O Futebol no RS

"Comentar o futebol do Rio Grande do Sul é um tanto curioso, ainda mais morando no Rio. Recebi o convite de PLACAR para fazê-lo na série de reportagens onde comentaristas esportivos de um estado, comentariam o futebol de outro, e no final diriam qual time simpatizavam mais. Achei a idéia brilhante, já que no Rio ninguém vai me cobrar por ser simpatizante de Grêmio ou Internacional, eu espero. As rivalidades já passaram fronteiras, como aquele caso ocorrido alguns anos atrás onde dois homens quase se agrediam a socos em hotel de Copacabana. Depois se soube que eram dois gaúchos, um Gremista, outro, Colorado. A gozação quase acabou em briga.

O futebol é Rio Grande do Sul é dividido em dois. Grêmio e Internacional. Talvez a rivalidade mais marcante do futebol brasileiro. Não é uma rivalidade apenas esportiva, de cores, de paixões. É uma rivalidade social, de estilos de jogo, e de vida. Uma rivalidade quase étnica. Alguém pode perguntar sobre o Juventude, pois o Juventude, que com competência e tropeços vem se mantendo na elite do futebol brasileiro, foi arrastado para a dicotomia do futebol gaúcho, através da acusação de ser um 'apêndice' do Grêmio. Coisas de uma guerra que às vezes busca aliados fora.

O Internacional é o clube do povo. De trabalhadores, de poetas, de apaixonados. De Brizola e Jango. É popular, pioneiro na democratização do futebol gaúcho. De gozadores e galhofeiros. De gênios habilidosos, de Tesourinha e Falcão, para citar duas eras douradas, de jogadores que não erram passes, de futebol vistoso, cadenciado.

O Grêmio é o clube da 'elite', dos modernos, dos 'magros' do Bom-Fim, é o clube dos pioneiros do rock gaúcho, dos rebeldes da década de 80, da geração 'Tóquio', como escreveu Eduardo Bueno. Mas também é o clube de Médici e Geisel. É o clube da torcida platina, que canta músicas do argentino Fito Paez na 'cancha' e faz avalanche na hora do gol. É o clube da loucura de Renato Portaluppi, da liderança de Luiz Felipe Scolari. É o clube do destemor diante do adversário, da fúria diante da adversidade.

É curioso esse fenômeno de Grêmio e Internacional. O Grêmio é um dos clubes mais odiados por todas as torcidas do país. O Internacional é tratado com um misto de admiração e saudosismo. Talvez pelo motivo que a maioria dos torcedores ainda leva as chagas da dureza do Grêmio das décadas de 80 e 90.
O Telmo Zanini, que é colorado, diz que o Grêmio leva um certo gauchismo aristocrático na sua imagem. Aquela coisa de gaúcho criador de cavalo de raça que tem apartamento na elegante praia de Punta del Este, no Uruguai. Segundo o Telmo em Punta Del Este tem mais gremista do que no balneário de Tramandaí, no Rio Grande do Sul. Não sei até que ponto isso é verdade, até porque já passou a fase do 'clube dos brancos' e 'clube dos negros', seja no Grêmio, no Fluminense, no São Paulo ou no Cruzeiro, clubes geralmente apontados como dos ricos. Existem negros, brancos, judeus, pobres e ricos em todos os clubes do Brasil. O clube mais rico do Brasil hoje, é o Corinthians, aquele do 'corinthiano, favelado e sofredor'. O Internacional hoje tem uma situação financeira invejável, que espero não redunde naquela tentativa doentia dos dirigentes de tentar conquistar o mundo a qualquer preço, que depois termina em dívidas impagáveis.

O Grêmio leva três medalhões no peito. As duas Libertadores da América, conquistadas em 83 e 95, o Mundial Interclubes de 83, ganho contra o então campeão europeu, o Hamburgo. O Grêmio explodiu para o mundo na década de 80, criou a geração 'Tóquio', e viu o rival naufragar. A verdade é que as únicas razões de comemoração da torcida do Internacional foram os dois rebaixamentos do Grêmio em 91 e 2004, já que além dos campeonatos estaduais, apenas a distante Copa do Brasil de 92 foi motivo de alguma comemoração, logo depois transformada em frustração na péssima campanha da Libertadores de 93.

Mas hoje, parece que os colorados enxergam alguma luz no fim do túnel. O time segue muito vivo no brasileiro, mesmo após o Escândalo do Apito, e está com força total na Copa Sul-Americana. O clube vive uma confortável situação financeira, com um projeto audacioso de modernização do estádio Beira-Rio em curso, testemunhada por mim no jogo da Seleção em Porto Alegre. Os gremistas falam que o Internacional vem se reestruturando desde 1979 e que tudo isso, de novo, não vai redundar em nada. Os colorados retrucam, falam na situação difícil do Grêmio, na realidade da série B. Os gremistas dizem que suas crises, duram dois ou três anos, e do Internacional continua a mais de um quarto de século.

Infelizmente, digo aos colorados, as conquistas do Grêmio são muito mais marcantes do que os seus fiascos, tanto que tive que pesquisar para me lembrar o ano que o Grêmio caiu a primeira vez, mas não pesquisei para lembrar quem foi o campeão da Libertadores de 83. Não sou Gremista, longe disso, inclusive acho que o time de Luis Felipe Scolari era um time apenas bom. Não era superior ao Palmeiras de 94 e 95, o Cruzeiro de 96 ou o Vasco de 97. Acho o time Campeão do Mundo sim, um timaço. Tão bom quando o Flamengo da época. Assim como também acho que foram injustiçados os times do Grêmio do final da década de 80 e o time de 2001 e 2002. Eu era fã daqueles times, primeiro de Assis, Valdo, Cuca e Paulo Egídio, depois de Marcelinho Paraíba, Zinho, Rodrigo Fabri e Rodrigo Mendes.

Simpatizo com o Grêmio pela sua rebeldia. Pelo seu destemor. Por mesmo estando na série B, mover um povo, uma paixão. Li o livro do Eduardo Bueno sobre o Grêmio, e me apaixonei mais ainda. O Grêmio se debate, não se entrega. Lembra a Resistência Francesa na Segunda Guerra Mundial. Gosto da torcida do Grêmio, que trouxe essa paixão platina para dentro da 'cancha', que não canta os arrastões dos bailes funk, nem leva aquelas faixas encomendadas das torcidas organizadas. Gosto da torcida do Grêmio que cada um leva sua faixa com seu amor, e que canta que 'não importa o que digam, não importa onde vás, eu te sigo a toda parte, e cada dia te quero mais'. E para os colorados me odiarem eternamente, vai uma análise, de um Flamenguista, jornalista, que acompanha futebol fazem 30 anos. Se o Internacional perder essa chance de criar uma geração 'Tóquio', vai estar ajudando a reerguer o Grêmio, e corre o risco de ver o Grêmio sair do buraco de novo em 3 anos, e ele Internacional, de novo, no fim da fila".

Texto retirado do site www.ducker.com.br.
A princípio ele é creditado a Sérgio Du Bocage, jornalista esportivo da TVE Brasil da DB Press e torcedor do Flamengo.

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sábado, julho 01, 2006

Dizem por aí...

Dizem que futebol é o ópio do povo. É a mais pura verdade. E desse ópio não é fácil se livrar.
Dizem que futebol é alienação. Também é verdade. Existem muitos alienados que não respondem a nenhum (ou quase nenhum) estímulo enquanto vêem uma partida de futebol.
Dizem que futebol é paixão. Mais uma vez é verdade. E pode-se morrer por essa paixão.
Dizem que futebol é ilógico. Outra verdade. Como é que pode se atirar algo com os pés em um alvo, se é mais fácil atirar com as mãos.
Dizem que futebol é barbárie. Verdade, verdade. Jogadores se chutando, acotovelando e se mutilando apenas para ser ‘melhor’ que o outro.
Dizem que futebol é irracional. Dez vezes verdade. Um bando de marmanjo correndo atrás de uma bola.
Dizem muita besteira por aí, e as verdades são relativas.