Da Geral

Lembranças e depoimentos feitos por um apaixonado direto da Geral! Comentários sobre futebol e derivados.

segunda-feira, outubro 30, 2006

"Por Que Sou Gremista"

Crônica escrita por Lupicínio Rodrigues, explicando por que ele, sendo negro, era torcedor do Grêmio, time de origem germânica e que inicialmente não aceitava negros.
Mais abaixo está o hino completo criado por Lupi, inclusive com a última estrofe, parte final da letra que foi suprimida 'pelo tempo'.
Fonte: Grêmio 1983

Por Que Sou Gremista - por Lupicínio Rodriges

"Domingo, estive em um churrasco na Sociedade Satélite Prontidão, onde se reúne a ‘gema’ dos mulatos de porto Alegre. Lá houve tudo de bom, bom churrasco, boa música e boa palestra. Mas como nestas festas nunca falta uma discussão quando a cerveja sobe, lá também houve uma, e foi a seguinte:
Uma turma de amigos quis saber por que, sendo eu um homem do povo e de origem humilde, sou um torcedor tão fanático do Grêmio.
Por sorte lá estava também o senhor Orlando Ferreira da Silva, velho funcionário da Biblioteca Pública, que me ajudou a explicar o que meu pai já havia me contado. Em 1907, uma turma de mulatinhos, que naquela época já sonhava com a evolução das pessoas de cor, resolveu formar um time de futebol. Entre estes mulatinhos estava o senhor Júlio Silveira, pai do nosso querido Antoninho Onofre da Silveira, o senhor Francisco Rodrigues, meu querido pai, o senhor Otacílio Conceição, pai do nosso amigo Marceli Conceição, o senhor Orlando Ferreira da Silva, o senhor José Gomes e outros. O time foi formado. Deram o nome de Rio-Grandense, e ficou sob a presidência do saudoso Julio Silveira. Foram grandes os trabalhos para escolher as cores, o fardamento, fazer estatutos e tudo que fosse necessário para um clube se legalizar, pois os mulatinhos sonhavam em participar da Liga, que era, naquele tempo, formada pelo Fuss-Ball, que é o Grêmio de hoje, o Ruy Barbosa, o Internacional e outros.
Este sonho durou anos, mas no dia em que o Rio-Grandense pediu inscrição na Liga, não foi aceito por que justamente o Internacional, que havia sido criado pelo ‘Zé Povo’, votou contra, e o Rio-Grandense não foi aceito.
Isso magoou profundamente os mulatinhos, que resolveram torcer contra o Internacional, e o grêmio, sendo seu maior rival, foi escolhido para tal.
Fundou-se, por isso, uma nova Liga, que mais tarde foi chamada de Canela Preta, e quando estes moços casaram, procuraram desviar os seus filhos do clube que hoje é chamado o ‘Clube do Povo’, apesar de não ter sido ele o primeiro a modificar seus estatutos, para aceitar pessoas de cor, pois esta iniciativa coube ao Esporte Clube Americano, e vou explicar como:
A Liga dos Canela Preta durou muitos anos, até quando o Esporte Clube Ruy Barbosa, precisando de dinheiro, desafiou os pretinhos para uma partida amistosa, que foi vencida pelos desafiados, ou seja, os pretinhos. O segundo adversário dos moços de cor foi o Grêmio, que jogou com o título de ‘Escrete Branco’. Isso despertou a atenção a atençaõ dos outros clubes que viram nos Canelas Pretas um grande celeiro de jogadores e trataram de mudar seus estatutos para aceitarem os mesmos em suas fileiras, conseguindo levar assim os melhores jogadores, e a Liga teve que terminar. O grêmio foi o último time a aceitar a raça, porque em seus estatutos constava uma cláusula que dizia que ele perderia seu campo, doado por uns alemães, caso aceitasse pessoas de cor em seus quadros. Felizmente essa cláusula já foi abolida, e hoje tenho a honra de ser sócio-honorário do Grêmio e ter composto seu hino que publico ao pé desta coluna."


Hino Oficial do Gremio

Até a pé nós iremos
Para o que der e vier
Mas o certo é que nós estaremos
Com o grêmio onde o grêmio estiver

Cinquënta anos de glória
Tens imortal tricolor
Os feitos da tua história
Canta o rio grande com amor

Até a pé nós iremos...

Nós como bons torcedores
Sem hesitarmos sequer
Aplaudiremos o grêmio
Aonde o grêmio estiver

Até a pé nós iremos...

Lara o craque imortal
Soube o teu nome elevar
Hoje com o mesmo ideal
Nós saberemos te honrar

Até a pé nós iremos...

Para honrar nossa bandeira
Para o Grêmio ser campeão
Poremos nossa chuteira
Acima do coração

Até a pé nós iremos...

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sexta-feira, outubro 20, 2006

Wander Wildner - Bebendo Vinho

O roqueiro 'romântico-punheteiro-apaixonado' Wander Wildner, usando uma camiseta Punk Brega, em programa da MTV, explica que sua letra 'vou me entorpecer bebendo vinho / eu sigo só o meu caminho' virou, na voz da Geral, 'vou torcer pro Grêmio bebendo vinho / e o mundial é o meu caminho'.
O ápice da entrevista é quando a apresentadora mostra o vídeo do Ducker e ele explica que 'é lá no chiquerão', se referindo ao estádio do sci.



Eis a letra:

Bebendo Vinho - por Geral do Grêmio

Vou torcer pro Grêmio bebendo vinho / e o mundial é o meu caminho...

Eu vivo bebendo, sempre borracho / e o tele-entulho / já foi chamado /
o descontrole já está formado / Grêmio te dou a vida / por esse campeonato.

Vou torcer pro Grêmio bebendo vinho / e o mundial é o meu caminho...

Na rádio toca o velho rock'n roll / lembro Renato, o Homem-Gol /
Nada mais apaga essa história / Grêmio Imortal, macaco chora.

Vou torcer pro Grêmio bebendo vinho / e o Mundial é o meu caminhoo...

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quarta-feira, outubro 18, 2006

Avalanche





Página da Revista Placar. A foto utilizada pela revista foi retirada do site ducker.com.br. Não houve autorização do site nem do autor da foto para a publicação. O nome que consta na Revista Placar está errado.

Clique na imagem para ampliá-la.

Abaixo a reprodução do texto.



PERIGO: AVALANCHE


Inspirados nas torcidas do futebol argentino, os torcedores da Geral do Grêmio, ou Alma Castelhana, importaram para o Estádio Olímpico a tradicional animação dos hermanos: cantos de incentivo ao time, muitas faixas (chamadas de trapos pelos freqüentadores da Geral), encrencas com a polícia e... a avalanche.

A cada gol do grêmio, cerca de 5 mil torcedores desatam em correria descendo os 32 degraus até espremerem-se contra a mureta que separa a arquibancada do gramado. No começo, a avalanche era apenas um espetáculo a ser aplaudido.

Cerca de 200 malucos comemoravam os gols com um corre-corre arquibancada abaixo. Agora, são milhares. E o muro do Olímpico dá mostras de que poderá não suportar tamanha euforia por muito tempo - o estádio foi inaugurado em 1954 e jamais foi reformado. Passando pela proteção, há um fosso de quase três metros de profundidade.

Recentemente, a direção do clube providenciou escoras metálicas afim de dar maior sustentação à mureta. O Grêmio ainda estuda a possibilidade de instalar as pára-avalanches no setor. São barreiras de ferro, em forma de pequenas traves, colocadas nos degraus da arquibancada. A peça é comum nos estádios argentinos.

“o pessoal se cuida, ninguém se machuca com gravidade na avalanche”, diz um dos fundadores da Geral do Grêmio/Alma Castelhana, pedindo anonimato para não “ficar visado” pela polícia. “só tivemos um problema até hoje: um torcedor havia bebido demais e perdeu o equilíbrio na correria. Mas só quebrou o braço.”

Apesar de não ver maior perigo na avalanche, o ‘castelhano’, de 44 anos, afirma que a comemoração ficou incontrolável: “a avalanche virou cultura no Grêmio. Agora todos participam, até idosos. Não tem mais como evitar”.

sexta-feira, outubro 13, 2006

Quilmes - Bendito Sae

Só agora, dia desses, é que eu tomei conhecimento desse vídeo. É um comercial da cerveja Quilmes, veiculado na argentina antes e durante a Copa do Mundo. A Quilmes patrocina a seleção deles, e traduz para a tela toda a paixão e sentimento que nossos vizinhos têm pelo futebol. Enquanto no Brasil ficamos assistindo a comerciais de malabaristas travestidos de jogadores que chutavam a bola pra fora e chamavam a sexta estrela, os hermanos se emocionavam a cada vez que esse filme passava na TV.

A narração é empolgante, e vai ganhando vida enquanto imagens de fracassos e vitórias vão lembrando o quanto lutaram para serem quem são - uma das seleções mais respeitadas do mundo. Tem até uma cena do Brasil comemorando a conquista da copa.

Futebol é isso. É força, é gana, é suor e sangue. Energia e superação, e isso os hermanos têm de sobra. Esse comercial da Quilmes contagia a eles e emociona muito brasileiro. Só não funciona com cariocas, por que cariocas ainda não sabem o que é futebol competitivo.

Assisti a esse vídeo várias vezes, com o som bem alto, mas jamais vou admitir para ninguém o quanto me emocionei e o quanto ainda me emociono a cada vez que o vejo. Quem sabe um dia nos orgulharemos ‘da glória e da honra de ser brasileiro!"

Abaixo está o texto narrado no comercial.



"Bendito sea el mundial con que soñamos
Bendito cada nombre que ha sido designado
Bendito los pibes que siempre sacamos
El peso de la historia, el respeto ganado
Maldito sean los recuerdos dolorosos
Maldita la impotencia, la injusticia que vivimos
El volvernos a casa cada uno por su lado
Las finales sin jugar y quedarme en el camino
Bendita la anestesia general a los dolores
La tristeza que curamos con abrazos
Las gargantas que se rompen por los goles
El sentirnos los mejores por un rato
Malditos los sorteos y los grupos de la muerte
Los controles sin azar que asignaron nuestra suerte
Malditos los mezquinos que juegan sin poesía
Los que pegan, los que envidian, los que rompen y lastiman
Bendito sea el orgullo con el que entramos a la cancha
El potrero y la pelota no se machan
La tv que repite la gambeta
Inflar las redes de los otros, inflar el pecho de los nuestros
Merecer la camiseta
Los turistas, los cronistas, los sponsors, los amigos, el himno
y las mujeres siguiendo los partidos
Bendita las cabalas que dan resultado
Las risas y el llanto que guardaremos tanto
Y bendito ese momento que nos regala el fútbol
De poder cambiar nuestro destino
Y sentir otra vez y frente al mundo
Lo glorioso y lo groso de ser argentino!"

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terça-feira, outubro 10, 2006

Péin. 'Canta, tchê'.

Turistas podem fazer parte da Geral, até por que a Geral é de todos, mas não podem ficar parados, olhando pros lados e levantando o braço para filmar tudo com o celular e depois dizer pros amigos ‘eu vou na geral’. Só cantam ‘chora macaco imundo’ e ficam gritando ‘uh, é avalanche’ a cada escanteio ou falta perto da área. Adoram bater palminhas, ficar amontoado perto da banda e se preocupam mais em ver o jogo do que em alentar o time. Alentar significa encorajar, animar, e esta é a função de uma torcida: encorajar; animar. Por isso se chama torcida. Quem não torce é mero espectador.

Se alguém quer assistir ao jogo sem perturbação, que vá para as cadeiras, e de lá cante as músicas que quiser. Ou vá para o meio da arquibancada ou para a social, que é campeã mundial em cantar por 30 segundos. Ou vá para onde quiser. O que não pode é ficar no meio da Geral reclamando que não consegue assistir ao jogo por que tem um monte de bandeiras na frente, ou que a fumaça incomoda.

Além disso, há vários colorados indo na geral. É fácil identificá-los, pois eles não conhecem os cânticos, se impressionam com tudo o que há em volta e se perdem na avalanche. Fora colorados, a Geral não é o lugar de vocês. Já os turistas podem fazer parte da melhor torcida do Brasil, mas para isso, devem cantar sempre, independentemente do cansaço e, como dizem nossos amigos argentinos: ‘la garganta que se rompa por los goles’. Nada contra quem gosta de ficar inerte no estádio, mas um parado é incentivo a que outro pare também, e assim, nesse caminho, logo teremos uma torcida parada, que nem a colorada. Mas bah, até rimou.

Por isso, quero lançar uma campanha em defesa da alegria e em manutenção desta torcida que impressiona a todos os jogadores, encantando alguns e apavorando outros. Sempre que tu veres um torcedor parado, dê uma leve cutucada no braço dele. Quando ver alguém cutucando outro, diga: ‘é isso aí, canta, tchê’. E se por acaso alguém te cutucar, não fiques bravo, não te ofendas. Apenas lembra-te que o Grêmio precisa de ti e que teu grito é muito importante para a Geral.

Isso já vem sendo feito por muita gente no estádio, mas é preciso que todos façam para que dê resultado. Da mesma forma que os jogadores, alguns torcedores também precisam de um incentivo. Então, um cutuco no braço está de bom tamanho para quem não gosta de cantar o tempo todo. Algumas torcidas argentinas cantam sempre por que se alguém pára, logo recebe uma cusparada na cabeça. Isso é nojento e desnecessário, mas um tapa na nuca cairia bem em alguns turistas.

Pois bem, que façamos isso. Um cutucão em quem não abre a boca, e um tapa na nuca dos reincidentes. Sem violência e sem exageros. Apenas um Péin, e um ‘canta, tchê’.

Saudações tricolores.

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quinta-feira, outubro 05, 2006

Dinho, o Homem Mau - 2º Parte

Conheci o Dinho logo após ele ter chegado ao Olímpico. Estava levando o irmão de uma ex-namorada para conhecer o estádio do Grêmio. O guri se dizia colorado, mas ficou encantado ao ver pela primeira vez nos seus 10 anos de vida um estádio por dentro, ao vivo. E ficou mais encantado ainda em saber que aquele bando de homens que estavam a poucos metros da gente eram jogadores de futebol. Jogadores de verdade, desses que fazem gol em estádio lotado, dão entrevista e aparecem na televisão.
Não me lembro por que escolhi aquele dia, se tinham anunciado algo ou se foi apenas acaso, mas o garoto estava exultante com aquele clima de jogadores, tietes, torcedores e repórteres.
Vários atletas ainda não eram identificados pela torcida, e estávamos, eu e um monte de gente especulando ‘quem era quem’ naquele amontoado de jogadores.
Alguém apontou para dois caras que conversavam de pé, à porta de um carro e disse: ‘aquele é o Dinho, do São Paulo’. O reconheci e fui até lá, com o guri a tira-colo me enchendo os tubos por que queria autógrafo de um jogador. Ele tinha feito um álbum de figurinhas, e queria que alguém assinasse, algo assim.
Eles estavam conversando empolgadamente, não lembro se o outro era jogador também. Quando chegamos perto, eu parei a uma distância de um metro e meio, mais ou menos, e fiquei esperando uma pausa na conversa deles, para autorizar o garoto a pedir o tal autógrafo. Eles conversando, e nós ali, parados, uns dois minutos. O guri tentou interromper a conversa, mas eu o puxei e disse, em tom alto e professoral, que era falta de educação interromper os outros, principalmente os mais velhos.
Continuamos parados ao lado da conversa por mais dois minutos, quando o guri, já de saco cheio de estar ali que nem um dois de paus, se postou entre os dois e, sem dizer nem uma palavra, apontou para o Dinho seu álbum improvisado de folhas de caderno, figurinhas e desenhos. O cangaceiro se admirou da petulância do guri, o olhou com a boca torta e, com cara de quem come criancinha com batatas no jantar, disse:‘não ouviu o teu amigo? É falta de educação interromper os mais velhos’, virando de costas e puxando o outro para longe de nós.
Fiquei fulo da vida. O que esse cara pensa que está fazendo? Quem ele pensa que é? Disse ao piá que ele não se preocupasse, pois aquele ali era um perna-de-pau mesmo, que era reserva do Pintado no São Paulo, e que se o Pintado já era ruim, imagina ele e fomos atrás de autógrafos mais interessantes, como o do Magnus ou do Alexandre, que eles sim é que eram grandes jogadores, pois eram atacantes e faziam gols, etc e tal.
Poucos meses depois estávamos eu e o mesmo ex-cunhado (que já era tricolor desde criancinha) torcendo pelo Dinho e vibrando com suas voadoras e carrinhos.
Às vezes o guri me perguntava quem era aquele cara que o tinha escorraçado no pátio do Olímpico tempos atrás, e eu dizia que era o Alexandre Xoxó, e que se o Alexandre entrasse no segundo tempo, ele poderia vaiá-lo. O guri me dizia que odiava o tal Alexandre e que não ia perdoá-lo jamais por ele ter agido daquela forma. Eu respondia que atacante firulento era assim mesmo, não jogavam nada e ainda eram mal-educados. Bom mesmo era o Dinho, que jogava sério.
Acho que o Dinho nunca foi muito de álbuns e autógrafos mesmo. Ele não tinha cara de quem gostava de figurinhas. Nem de crianças e de atacantes firulentos. Sorte do Grêmio, e azar do Alexandre Xoxó, que será vaiado pelo guri pelo resto da vida.

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