Da Geral

Lembranças e depoimentos feitos por um apaixonado direto da Geral! Comentários sobre futebol e derivados.

segunda-feira, agosto 28, 2006

O Grêmio não pode retroceder !!!

Mensagem da Geral do Grêmio divulgada na página www.ducker.com.br

O Grêmio não pode retroceder !!!

"Esta mensagem está sendo enviada a todos os gremistas que puder alcançar. Diz respeito à situação atual do nosso clube: sua direção, seu conselho, sua torcida (muito particularmente sobre a GERAL). Como torcedores atuantes e sócios, gostaríamos de fazer uma breve retrospectiva e algumas projeções do que pode acontecer daqui para frente no tocante a todos estes segmentos que compõem o GRÊMIO. Talvez a maioria não saiba, mas um dia antes de o presidente Paulo Odone assumir o clube firmamos um acordo, muito importante e indispensável para o GRÊMIO retornar a primeira divisão. Exigimos apenas uma coisa: RESPEITO. Todos sabem que a direção anterior do clube , estupidamente, não só abdicou do apoio como atacou diretamente a maior e mais vibrante torcida dos estádios brasileiros: A GERAL DO GRÊMIO ! Ou, como muitos denominam (também na imprensa) a "alma castelhana". Pedimos respeito por nossa paixão, por nosso sentimento pelo GRÊMIO. Queríamos e proporcionamos belos espetáculos de apoio incondicional ao tricolor com nossas faixas, barras, bumbos, papel picado e bobinas. Festa esta que chamou a atenção do Brasil inteiro e até mesmo no exterior, inclusive criando uma ciumeira danada na turma do Beira – Lago que, de maneira muito limitada e até mesmo caricata, forjou um agrupamento para tentar rivalizar com a GERAL. O Presidente Odone, por ser inteligente e agregador, atendeu prontamente nosso apelo para que pudéssemos torcer pelo GRÊMIO desta forma original e inigualável. O pacto de todos em favor do tricolor nos levou a fantástica campanha de retorno a primeira divisão. Fomos atendidos na solicitação de catracas para sócios ingressarem nas arquibancadas e nos transformamos no "carro-chefe" da campanha de associação ao GRÊMIO. Ajudamos a engrossar e qualificar nosso quadro social. Fizemos mais do que o lerdo e ausente Conselho do Clube que, na sua maioria, sequer comparece nos jogos de nossa equipe !!!
Mesmo assim, depois de tudo isto, somos taxados pela grande imprensa como "baderneiros", "marginais" e outros adjetivos do gênero. A ira contra a GERAL pode ser explícita ou oculta, mas é permanente e incansável. Desde o último GRENAL se intensificaram os ataques. Aceitamos críticas que se proponham a melhorar nossa mobilização, nossa aglutinação em favor do GRÊMIO. Mas não aceitamos e nem concordamos com 90% delas, pois são feitas por pessoas desmoralizadas, profissionais da babação-de-ovos e que posam de isentos em jornalecos , tvs e rádios gaúchas. Muitas mentiras, muitas intrigas e bastante covardia. Falam o que querem e não aceitam escutar nossas respostas! A direção do GRÊMIO não pode se submeter e nem se curvar perante esta parte da mídia. Não é justo que, agora, sejamos impedidos de levarmos nossos materiais para dentro do estádio. Não é possível que papel picado e pano sejam ameaças a quem quer que seja. Não podemos e não aceitamos ser o bode expiatório de nossa imensa e invejada torcida ! Será que somente quando estivermos sobre uma nova ameaça de rebaixamento nossos materiais serão liberados ? Será que só nesta circunstância seremos lembrados? O que a direção precisa fazer é uma nova parceria com a sua torcida! Toda torcida!!! Queremos uma vaga na Libertadores de 2007 ! Queremos o GRÊMIO sempre forte e Copeiro! Queremos uma nova e potente campanha de associação ao nosso tricolor (e aí direção??).



















O QUE TU, GREMISTA DE FÉ, VAIS FAZER NESTE PRÓXIMO JOGO, DIA 02/09 ,CONTRA O PARANA? VENHA PARA TUA CASA, VENHA PARA O OLÍMPICO ! A GERAL TE CONVOCA PARA UM PROTESTO PACÍFICO, MAS NAO SILENCIOSO !!!
QUEREMOS VOLTAR A LIBERTADORES ! QUEREMOS DE VOLTA O NOSSO DIREITO DE TORCER PELO GRÊMIO DO JEITO QUE SEMPRE FIZEMOS !
QUEREMOS ATITUDE DE DIRIGENTES E CONSELHEIROS VALORIZANDO TODA TORCIDA GREMISTA!
QUEREMOS VER A GERAL PULSANDO COMO SEMPRE!!
CANTO DE PROTESTO DO JOGO DO GRÊMIO X PARANÁ
CHEGA DE BESTEIRA,
LIBERA AS FAIXA E TAMBÉM MINHA BANDEIRA."

sexta-feira, agosto 25, 2006

Jamelão Imortal















Notícia tirada do Blog Grêmio 1983, até por que eu não leio ZH.

O teste de Jamelão

Pouco depois da decisão da Libertadores, quarta-feira, alguns entusiasmados torcedores do Inter decidiram festejar no bar Sujinho, local de boêmios de São Paulo. Quando chegaram lá, devidamente uniformizados, viram que no local estava o cantor Jamelão, cliente habitual e torcedor do Grêmio. Foram até a mesa e pediram para bater uma foto ao lado dele.
- Só aceito se vocês me disserem qual é a melhor música do Lupicínio Rodrigues - desafiou o cantor de 93 anos, até hoje o homem que puxa o samba da Mangueira no Carnaval.
Diante da provocação de Jamelão, os torcedores passaram a citar várias músicas. Felicidade, Vingança, Nunca, entre outras.
- Vocês erraram - respondeu Jamelão. - A melhor é Até a Pé nós Iremos - e passou a recitar o hino do Grêmio, composto por seu amigo Lupicínio em 1953, no cinquentenário do clube.
Diante da surpresa do grupo de amigos, completou a brincadeira:
- Mas tudo bem, eu vou tirar a foto com vocês.
Todos ficaram felizes.


A camisa de Jamelão

Velho amigo do compositor gaúcho Lupicínio Rodrigues, 94 anos, puxador de samba da Mangueira, boêmio assumido, o cantor Jamelão é também um velho e fiel torcedor do Grêmio, como descobriu um grupo de colorados que o procurou para bater uma foto logo depois da decisão da Libertadores (Bola Dividida de domingo). Para quem ficou em dúvida, aí está: no domingo mesmo, Jamelão foi até a casa do jornalista gaúcho Airton Gontow (E) participar de um churrasco, devidamente uniformizado. Lá, ele elogiou o desempenho do Inter na final contra o São Paulo, mas agiu como um torcedor típico - não esqueceu de brincar com a rivalidade.
Enquanto posava para a foto abaixo, ele cantarolava "já ganhamos duas, já ganhamos duas", referindo-se às Libertadores conquistadas pelo Grêmio, em 1983 e 1995.

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quarta-feira, agosto 23, 2006

A Nova Libertadores

Quero tecer alguns comentários sobre a Libertadores, e minha idéia não é tirar o mérito do inter. Campeão é campeão, e pronto. O que vale é faixa no peito e taça no armário. Mas acontece que a Libertadores não é mais a mesma. Ela perdeu muito de suas características originais, que a diferenciavam de qualquer outra competição do mundo. Quem, como eu, acompanhou este torneio nos anos 80 e início dos 90 sabe bem do que eu estou falando.
Primeiro que pra tu chegar lá já era um sacrifício. Hoje em dia até o São Caetano, o Goiás e o Paulista (isso mesmo, o Paulista de Jundiaí) disputam a Libertadores. Imagina um Goiás x Paulista. Até parece jogo de estréia da Copa o Brasil, daqueles em que o visitante ganha por dois gols e nem disputa a partida de volta. Este ano tinha 6 clubes brasileiros (eu disse SEIS) e até a modesta Venezuela contava com 3 participantes. Muita gente. Então, hoje está mais fácil participar da Libertadores.
Em segundo lugar, os clubes estão mais fracos. Não se vê grandes atletas, titulares de suas seleções, disputando a Libertadores. Os craques vão embora antes do clube ter a chance de tentar ser campeões da América. Enquanto isso, nossos melhores jogadores estão disputando torneios europeus.
Lembro bem do Grêmio enfrentando o Boca, o River, o Estudientes. Eram a base da seleção argentina. E o Penharol e o Nacional eram a totalidade da seleção uruguaia. Hoje nem seleção o Uruguai tem mais. Os times da América estão mais fracos, mais pobres. Por isso que só tem dado brasileiro na final, ano após ano.
Terceiro, a Copa Libertadores não é mais tão copeira assim. Explico. Até por que alguém que só tenha disputado as últimas edições do torneio talvez não entenda. O 'bixo pegava', literalmente.
Os jogos eram bem mais disputados, e jogador pra ser expulso tinha que arrancar a perna do adversário, a não ser que estivesse jogando em casa. Por que em casa valia tudo. Gol de mão, impedimento, falta violenta e invasão de campo.
Os gandulas eram recrutados entre os mais fortes da Polícia de Choque (basta lembrar o Grêmio x Palmeiras, em 95) e dominavam mais de uma arte marcial, além de terem quase dois metros de altura. Buscar a bola (que era bom) eles não buscavam, mas afinal, não era para isso que eles estavam ali. Hoje o jogador levanta a camiseta e é expulso. Se expulsa até por reclamação.
Lembro um jogo em que o Renato teve que ir pra zaga e dar um pontapé num uruguaio que tava baixando o sarrafo em todo mundo. Era assim que se resolviam as coisas. Juiz servia apenas para contar o tempo, e olhe lá. Noutra feita, o Grêmio ganhava do Estudientes, lá em La Plata de 3 x 1, pela Libertadores de 83, quando o capitão argentino tirou o apito do árbitro e tentou 'expulsar' jogadores do Grêmio à força. Como não conseguiu, tirou-os de campo abaixo de pancada mesmo. A torcida ameaçava a todo instante invadir o campo, e o juiz não parava de olhar, apavorado, pra arquibancada.
No final, os argentinos empataram o jogo, a base de muito empurrão, soco e com gol de mão (se não me falha a memória, foi com as duas mãos). A torcida foi à loucura, pois o resultado eliminava os argentinos e colocava o Grêmio na final com o Penharol. O bandeira trocou de profissão, e o árbitro nunca mais foi visto.
O próprio inter foi vítima da violência que imperava naquela época, quando teve seu ônibus queimado. Amarelou feio naquele ano. Hoje é essa mamata. O máximo que se faz é jogar foguetes na frente do hotel onde está hospedado o time adversário.
Pra terminar, até o nome da competição mudou. Antes era Copa Libertadores da América, em homenagem a homens que, com sua garra e coragem (e até pagando com a própria vida), livraram os países da América do sul de seus colonizadores. Homens como Simón Bolívar, Dom Pedro I e San Martín, entre outros. Daí vem toda essa gana pela vitória, essa doação, essa entrega, essa sede pela vitória. Perdia-se sangue pelo time. Basta lembrar De Leon.
Hoje temos a Copa Toyota Libertadores, patrocinada e explorada por uma montadora japonesa, que nos usurpa a história e transforma a nossa maior competição num campeonato onde o interesse de investidores pode decidir o rumo do título.
Nada do que eu enumerei serve para depreciar ou diminuir o feito do coirmão. O inter não tem nada a ver com isso. Foi lá e venceu. Como eu escrevi no início, o que vale é faixa no peito e caneco no armário. O Grêmio busca, cada vez mais, o tri da Libertadores, dessa mesma Libertadores soft, e quando conseguir esse feito se orgulhará muito disso.
Mas que não é mais a mesma coisa, ah, isso não é.

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terça-feira, agosto 22, 2006

Luz, Câmara, Superação

"Algumas pessoas acham que futebol é uma questão de vida ou morte. Eu discordo. Futebol é muito mais importante que isso."
É com essa frese de Bill Shankly, ex-técnico do Liverpool dos anos 60, que começa o filme “Inacreditável, a Batalha dos Aflitos”.
O filme conta a saga do Grêmio no ano da desgraça e da graça de 2005.
É um documentário sobre a queda do glorioso tricolor para a 2º Divisão, o ano de sofrimento e o dramático jogo final, onde o time, com muita luta, garantiu seu retorno à elite do futebol brasileiro.
Tem depoimento de vários jogadores e personalidades, como Lucas, Felipão e Paulo Odone.
O filme teve seu título inspirado na empolgante narração de Pedro Ernesto Denardin, da rádio gaúcha: “Inacreditável... inacreditável...” para ele, que é colorado, deve ter sido inacreditável mesmo.
É obrigação de todo gremista ou de qualquer amante do futebol ter esse filme em seu acervo.
Assista ao trailer, que também está disponível na página www.filmeinacreditavel.com.br.

Realmente Inacreditável

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segunda-feira, agosto 21, 2006

Benção do Portaluppi

Esses dias eu escrevi que algumas tias minhas eram coloradas, mas tinham virado gremistas com a graça de Deus e a benção do Portaluppi. Bem, alguns engraçadinhos me fizeram comentários maldosos sobre o Renato e as mulheres da minha família.
Vamos às explicações.
‘Benção do Portaluppi’ não significa que ele teve que ‘traçar’ ninguém. É apenas uma força de expressão. Peço e exijo muita educação e decoro pelas minhas tias, que sempre se deram o devido respeito. Nenhuma delas, NUNCA teve nada com o ele. Quer dizer, o Mano até que é meio parecido com o Renato, mas isso é só coincidência.
Quanto às minhas primas, se o Renato tivesse ficado com alguma delas até que não seria tão ruim assim. Elas já me apresentaram cada figurinha, que eu vou te contar. Então seria uma benção mesmo.
Espero que todos tenham entendido. Muito respeito com a família alheia.

Contato com RONAN

Primo, parabéns de novo pelo teu título. Eu sequei bastante, é verdade, mas o inter ganhou e eu não fiquei preocupado com isso. O que me preocupa mesmo é o Grêmio, que é campeão em me dar alegrias e sustos.
Se o São Paulo tivesse ganho o jogo, eu não iria ficar feliz, apenas aliviado, pois vocês ainda não seriam campeões da América. Com a derrota do time paulista, virei para o lado e tentei dormir de forma tranqüila. Só não consegui por que o barulho era muito, mas muito mesmo. Só não era maior do que a festa que fizeram quando o Grêmio perdeu o mundial pro Ajax. Aquilo sim é que foi festa. Mas as vitórias do glorioso tricolor não me deixam guardar ressentimentos.
Agora eu te peço licença para te dar um conselho de quem já viveu e viu mais nesta vida do que tu. Não fiques remoendo essas amarguras do passado. Se o inter foi roubado no ano passado, deveria ter reclamado no ano passado mesmo. Já que o inter aceitou a derrota, pare de pensar nisso e ‘bola pra frente’. O campeão do mundo também já foi roubado na final do brasileiro de 1982, e de forma descarada. Depois de muito choro, flamengo campeão. E não se esqueça que lá no Rio, a torcida fluminense reclama até hoje o ‘roubo’ da final da Copa do Brasil de 1992. Lembra quem ganhou?!?
Ronan, fico satisfeito que sejas orgulhoso do teu time. Isso mostra que tu tens amor por ele, e que se ele cair para a segunda divisão o estádio da beira do lago continuará lotado, né.
Saudações tricolores.

sábado, agosto 19, 2006

Ronan é a nossa Maria Eugênia

Ronan é um personagem imaginário criado para servir de contraponto ao gremismo que sempre tomou conta da minha família. Servia (e ainda serve) de referência para tentarmos imaginar como é que os colorados pensam, o que eles sentem e como se comportam.
Tudo começou nas primeiras vezes em que fui ao estádio para assistir ao jogo em si, a dar bola para o resultado. É que no início eu ia a campo para brincar, e tudo era motivo de festa e exaltação. O Grêmio vencia, eu ficava feliz, mas me preocupava com a torcida adversária.
Bem, lá pelos meados da década de oitenta (saudosa década de oitenta), minha família costumava se reunir nas festas de final-de-ano na casa do Vô Pedro, em Torres. Todos felizes, todos bonitos, todos vencedores, todos gremistas. O único colorado que se atrevia a entrar naquela casa era o tio Rogério (casado com a tia Cenira), e isso por que o velho Pedro Cardoso botava o braço por cima dele, e ninguém se atrevia a tocar no intruso. Também tinha algumas tias que diziam ser coloradas, mas sabe como eram as mulheres daquela época, né. Não entendiam nada de futebol. Hoje são todas gremistas, com a graça de Deus e a benção de Portaluppi.
Lá no meio dessas festas, com declarações de amor ao Grêmio e comemorações de títulos, às vezes alguém comentava que se fosse colorado, preferia morrer. Outro dizia que se fosse colorado, simplesmente trocaria de time e viraria gremista, continuando vivo. E um terceiro bradava que se fosse colorado mudaria de país e só assistiria a Fórmula 1.
Brincadeira vai, brincadeira vem, resolvemos criar um amigo imaginário. Ou melhor, um primo imaginário, já que a maioria ali era formada por parentes. Inicialmente o chamávamos de Sofredor.
Uma pessoa fazia uma pergunta, do tipo: “Sofredor, como é torcer para o inter e sempre perder para o Grêmio.” Outro respondia: “É difícil, mas de vez em quando a gente ganha um gre-nal, e daí podemos fazer festa por seis meses, ou até o Grêmio ganhar da gente de novo, o que não demora muito.” E eu inventava outra pergunta: “Mas Sofredor, tu já viu o teu time ser campeão?” E alguém (podia ser qualquer um de nós) respondia, com cara de dor e voz de sofrimento: “Já, já vi sim. Quando eu tava no saco do meu pai o inter foi campeão brasileiro, INVICTO.” Todos ríamos, por que o primo imaginário nunca tinha visto o time dele ser campeão.
Essa brincadeira, além de divertida, era educativa. Sempre que alguém xingava um colorado, outro (geralmente uma prima) advertia que não deveríamos ser grosseiros com o Sofredor, que apesar de colorado, ele era parte da família e deveria ser respeitado. Mais risos por parte de todos. Com o passar do tempo, passamos a chamá-lo também de Reino, pois estava sempre reinando, resmungando.
A brincadeira foi tomando corpo, e a tia Cenira (para a alegria do tio Rogério) resolveu fazer um boneco, para representar fisicamente o Sofredor. Era para ser um boneco feio, com cara de quem perdeu a final de novo, mas até que ficou bonito. A tia usou uns lençóis claros que a Vó-Guida deixou num canto, e uma peruca de boneca. Pronto, estava feito o Sofredor, que por causa dos panos e cabelos, tinha cara de alemão. Para surpresa geral, ele até que era parecido com os ‘pais’ e com a nova ‘irmã’, a Lana, que por coincidência, também era bem clarinha.
Como eu disse, até que o boneco que representaria o Sofredor ficou bonito, apesar de meio desengonçado. Bem, era apenas um boneco, e a tia, apesar de suas habilidades como artesã, não era nenhum Michelangelo.
Daí surgiu um problema. O novo ‘primo imaginário’ estava formado, mas precisava de um novo nome. O Mano sugeriu que fosse Saci, mas ele era muito branco, e além disso, tinha as duas pernas. O tio Adroaldo sugeriu Gérson, mas já tínhamos um Gérson na família, que por sinal é meio desengonçado também. Alguém teve a brilhante idéia de fazer uma sigla. É, uma sigla que representasse tudo o que era o Sofredor para nós. Um nome que identificasse o ‘novo primo’ como um rapaz que estivesse sempre com a gente, mesmo que apenas na nossa imaginação. Que compartilhasse sempre as vitórias do Grêmio, mas nunca admitindo o seu amor platônico pelo tricolor, e sempre apegado ao inter. Assim surgiu o RONAN – Rapaz Onipresente Na Alegria Nossa. Perfeito. Agora o Sofredor tinha corpo e um novo nome. Ronan. Bem nome de colorado.
Da mesma forma em que o Ban-Ban criou a Maria Eugênia, que Cervantes criou Don Quixote, que Michelangelo criou Davi, que Kafka criou a barata e que Gepetto criou o Pinóquio, a minha família criou o Ronan.
Bem, o Ronan vem acompanhando o futebol do Grêmio já faz algum tempo, e sempre que pode, ele toca flauta nos gremistas, tira algum sarro. Essa semana, com a vitória do inter na Libertadores, era de se esperar que ele ‘aparecesse’. Digo aparecesse por que ele andava meio sumido. E não é que ele apareceu mesmo. Me mandou um ‘e-mail imaginário’ falando mal do aviso que eu deixei abaixo para os colorados. Aqui vai a resposta ao e-mail do Ronan.


Resposta ao Ronan:

Oi, Ronan. Feliz, né? Deve estar mesmo.
Realmente não consegui dormir direito aquela noite, pois tinha foguete pra todo lado e gente gritando que nem lôco. Não entendi pra que tanta festa, já que os colorados sempre falaram mal da Libertadores, sempre disseram que os dois títulos do Grêmio não valiam nada.
Não queria entrar no mérito sobre os títulos, mas é meu dever de ‘primo’ alertar sobre alguns erros que escreveste.
Primeiro, o Grêmio ganhou quatro Copas do Brasil, e não três. Eu sei que com tanto título é difícil contar, mas pede uma ajuda pro Pedro, que ele já conta nos dedinhos.
Segundo, a Recopa só não existe no imaginário colorado. É que vocês nunca tinham ganho a Libertadores, por isso não conhecem. Do mesmo modo que não conhecem a Copa dos Campeões. E tu diz que a Recopa não tem importância nenhuma, do mesmo modo que tu falava da Libertadores, lembra.
Terceiro, tu falas em ganhar a segunda Libertadores. Bem, vamos lá, vamos às contas. Se o inter busca esse título a duas décadas, é bem provável que leve mais duas para ganhar de novo. Como tu é uma criação e fruto do imaginário popular, enquanto houver um gremista vivo no mundo existirá o RONAN. Assim sendo, se o inter for campeão daqui a 200 anos, tu ainda vais ‘existir’ para presenciar esse milagre.
Quarto, tu falas em títulos de categoria de base, falas que o inter foi campeão de botão em 1945, foi campeão de bocha em 1766 etc. Isso é importante? Mais importante que a Recopa?
Relaxa, ‘primo’. E aproveita a festa. Até breve, e continue se ‘comunicando’.

Ps. Quem é edinho?!? O filho do Pelé?!?

sexta-feira, agosto 18, 2006

Campeão de Tudo

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sábado, agosto 05, 2006

Dicas de Literatura

Duas boas dicas de livros sobre futebol.

"O futebol levado a riso", do pensador Rubem Alves. Formato quase de bolso, 69 páginas, baratinho, da Verus Editora, em que se mistura o futebol com a geometria, infância, política, religião, poesia, sadismo, com quase tudo.

"11 histórias do futebol", da Nova Alexandria, 142 páginas. Com contos que vão desde o futebol de botão ao dos gramados. Na verdade só um sobre o primeiro, todos os demais sobre o que rola nas Copas do Mundo ou na várzea.

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terça-feira, agosto 01, 2006

Gre-nal do Inferno

Esse Gre-nal prometia ser morno. Morno não, frio, já que eles vinham com os reservas, e o time do Grêmio ainda está procurando seu equilíbrio. Bem, pode-se dizer que o Gre-nal foi tudo, menos frio.
Na concentração, em frente ao olímpico, muita gente cantando e bebendo. No deslocamento, tudo tranqüilo, e na chegada à beira do Guaíba uma pequena recepção de vaias, mas a brigada estava por toda a parte.
Ao entrarmos no pátio do estádio, fomos encaminhados pelos fundos do gigantinho, e aí houve um pequeno confronto. Alguns seguranças do local começaram a empurrar a torcida para debaixo da marquise do ginásio, batendo em torcedores e se provalecendo pela presença da brigada militar. Quanto mais a torcida adentrava nas dependências do beira-lago, menos policiais tinham.
Alguns metros adiante, dois seguranças batiam em torcedores do Grêmio, quando a torcida foi para cima deles. Nesse momento já não tinham policiais por perto, só seguranças. Bem, nem preciso dizer que os dois seguranças levaram uns sopapos, e que váááários integrantes da torcida começaram a jogar pedras na direção deles.
Eles estavam na divisão do pátio com o estacionamento da EPTC, e muitos carros foram apedrejados no incidente. Alguns jogavam pedras diretamente nos carros.
Enfim chegamos, mas para entrar no estádio levaria mais duas horas. Durante esse tempo, a torcida jogou pedras em vidros, apanhou da brigada, cantou, apanhou da brigada, bebeu, esperou, apanhou da brigada, e quando os portões foram liberados, a brigada passou com os cavalos por cima de todos pela última vez, que é pra mostrar quem é que manda.
Ninguém ali merecia apanhar, mas muitos mereciam ser presos, isso sim. A brigada pegava alguns dos baderneiros, batia neles e soltava. O vivente ficava brabo por ter apanhado e aí, sim, enfrentava a polícia com mais gana ainda.
Entrando no túnel do estádio, percebi um monte de banheiros químicos (ou ecológicos), e a brigada baixando o sarrafo em quem fazia a parede oposta aos banheiros de penico. Eram poucos banheiros pra tanta gente, e muitos se aliviavam no corredor mesmo. A polícia entrou no tal corredor para praticar seu esporte favorito: bater.
A brigada invadiu esse corredor algumas vezes até com seus cavalos, e dois banheiros foram derrubados para que os cavalos não conseguissem passar. Tava tudo molhado e fedendo.
Entramos no estádio, e foi aquela festa linda, que todo mundo já conhece. Torcida pulando alegremente, entoando seus cânticos e hinos.
O jogo ainda nem tinha começado e algumas pessoas invadiram a social do inter, o que causou contra-ataque por parte da brigada. Outro quebra pau. A brigada, mais uma vez foi burra, pois viu os torcedores tentando derrubar o portão. Inclusive tinha dois policiais ao lado deles, e esses nada fizeram. Quando dei por mim, o jogo já tinha começado, e o couro comendo pro lado dos gremistas.
Estádio quase lotado, um monte de colorados quietos e sentados. A Geral sempre de pé, sempre cantando, sempre apoiando. Mal dá pra prestar atenção no jogo.
Um integrante da torcida do Grêmio é preso, sei eu lá por que, mas a torcida bate palma para a polícia e manda o seu recado: “Leva... leva...leva...”. A brigada ‘leva’ o sujeito, que logo depois reaparece misteriosamente dentro do estádio, todo quebrado e arrumando confusão com todo mundo.
Esse mesmo sujeito (e mais uns 15) começou a carregar os banheiros químicos (que o comentarista Cláudio Cabral erroneamente chamou de ‘atômicos’) e atirou o primeiro de uma série para a coréia do estádio. A polícia voltou a ficar junto com a torcida, e de novo viu os banheiros sendo carregados, e nada fez.
Os caras ficaram a noite toda carregando banheiro nas costas, na maior trabalheira.
Quando já tinham um monte de banheiros empilhados, começaram a colocar jornais e papéis picados, e logo após tocaram fogo em tudo.
O fogo começou tímido, e às vezes parecia que apagaria sozinho. A velha brigada companheira mais uma vez assistia a tudo com uma complacência de dar inveja ao Fernando Carvalho.
Quando eu já estava conseguindo me concentrar no jogo, o fogo aumentou, e aumentou, e aumentou tanto, e fez tanta fumaça que tiveram que parar o jogo e chamar os bombeiros. A fumaça era daquelas pretas, desgraçada que impregna em tudo, escurece o céu e não te deixa respirar. Teve momentos em que eu não via nada.
Pra ajudar, a brigada resolveu ‘trabalhar’ mais um pouquinho e voltou a bater em todos que estavam por perto. Alguns brigadianos acompanharam os bombeiros, para lhes dar cobertura, e faziam isso atirando a esmo com balas de borracha na torcida. Essa revidava, atirando qualquer coisa na brigada, e por tabela, nos bombeiros também. Voavam pedras (?!?), rádios, latas de cerveja, guarda-chuvas, pilhas, etc.
A brigada tentou prender algumas pessoas, e um policial resolveu pegar um rapaz que estava de jaqueta azul-escuro, sentado, escondido da chuva de objetos e sem fazer mal a ninguém. Quando ele pegou o rapaz, vários torcedores foram para cima dos policiais, derrubando-os no chão e chutando-os. Com a chegada do reforço, aquilo virou uma verdadeira praça de guerra, com a polícia jogando bombas de impacto e gás, e atirando pra todos os lados. Depois de alguns minutos, tudo ficou mais calmo.
Dos torcedores baderneiros, o mais exaltado era aquele que no início do jogo tinha sido pego e liberado.
Com o fim do fogo, tentei prestar atenção no jogo, mas esse estava muito monótono para aquela noite de tantos acontecimentos. Tudo voltou ao normal, com a torcida do inter sentada e quieta, e a Geral cantando sem parar.
Acabado o jogo, tivemos que ficar parado por meia hora (como sempre acontece) até que os portões fossem abertos para podermos ir embora. Pouco antes de sairmos, os bombeiros se retiraram de campo (surreal) e foram muito aplaudidos pela Geral, inclusive com cantoria (... bombeiros ... bombeiros ... bombeiros ...).
A volta foi tranqüila e a esposa ligou várias vezes para saber o que tinha acontecido, e se eu estava bem. O banho em casa foi demorado, pois a tal fumaça parecia que nunca mais iria sair. Fiquei dois dias com uma gosma preta saindo pelo nariz e revoltado com a repercussão distorcida dos fatos acontecidos no Gre-nal do Inferno.

Bonito, hein.

Que graça, eu dependurado no canto esquerdo da foto, de jaqueta e camisa verde.
Tava um verdadeiro inferno, e a fumaça 'grudou' em mim por dois dias.